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Japan • Day 2: Tsukiji Market

May 9, 2017

Já passou algum tempo desde o primeiro post, mas não posso deixar de vos mostrar quão incrível foi esta viagem. Tal como vos contei aqui, aproveitámos o jetlag para irmos ao mercado de madrugada. Mas tivemos noção de que não queríamos ir cedo demais porque caso contrário,  às 4h da tarde já estaríamos K.O. e depois tornava-se um ciclo vicioso e não aproveitávamos ao máximo os nossos dias.

Decidimos não ir numa visita guiada e combinámos que às 5h saímos do hotel. O mercado ficava a 1 ou 2km, por isso íamos a pé. Eu adoro andar a pé e acho que só assim se conhece verdadeiramente uma cidade, mas conciliar isso com tudo o que queria ver nem sempre é possível, especialmente numa cidade como Tóquio.

Um pormenor importante: o Google Maps não funciona a 100% no Japão. Fica um bocado desorientado, especialmente quando andamos a pé. Apesar de estarmos quase certos de que era ali, a app estava completamente à nora, a mudar de direção constantemente. Assumimos que tínhamos chegado e entrámos, mesmo depois de numa espécie de recepção, termos visto um aviso que dizia que o mercado estava fechado. ‘Fechado a uma 4.ª feira? Don’t think so!

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À entrada, os rostos dos mais procurados no Japão. Creepy! E estes posters estão em todo o lado! Só pensava que nunca ia conseguir decorar a cara deles! Ahaaha! Bom, se os virem por aí, avisem as autoridades!

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O mercado é talvez a coisa mais caótica que vi no Japão, tirando o metro em horas de ponta. Caixas por todo o lado, lixo e estes veículos capazes de atropelar qualquer turista mais distraído.

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Às 5 e tal já estavam filas enormes para os restaurantes de sushi. É neste mercado que podemos comer o melhor sushi, com o peixe mais fresco. Daí ser um must do numa viagem a Tóquio.

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Estes senhores carregam o peixe que foi comprado por restaurantes. No caso do atum, há um leilão lá para as 3h/4h da manhã, que vai ter de ficar para uma próxima.

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O mercado propriamente dito é toda uma experiência imersiva. Dava a sensação de que não era suposto estarmos ali. Ao contrário de todos os outros sítios, ali não havia sorrisos nem vénias, passávamos indiferentes a toda a gente. Os olhares eram mais frios e distantes. E contudo, conseguiu ser das melhores experiências.

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Fiquei overwhelmed com as cores do peixe fresco a sobressair naquele ambiente sombrio e severo. O caos nunca me pareceu tão bonito. Foi uma passagem rápida, especialmente porque começámos a sentir-nos pressionados para sair dali, mas eu queria demorar-me e absorver todos os pormenores daquele cenário.

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Saí do mercado assoberbada, depois de contemplar toda aquela realidade, que não passa de rotina para as pessoas que lá trabalham. Pensei que agora seria a vez do meu palato. Fomos para a fila de um dos restaurantes que o Fred dizia ser dos melhores do mercado.

Pelo caminho não pude passar indiferente a estes pormenores kawaii! :)

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Daiwa Sushi

Obviamente, quando chegámos estava uma fila gigante. Havia um senhor, cujo tamanho impunha respeito, a orientar um labirinto humano para que a fila não obstruísse a passagem na rua. As únicas palavras que ele sabia em inglês eram ‘back’ e ‘end’. Adivinhava-se uma experiência única. Até então, a língua não tinha sido uma barreira.

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O restaurante tinha duas salas distintas, e à medida que íamos avançando na fila, íamos espreitando, eufóricos, entre as cortinas cor de tijolo.

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Quando vi este sushiman (em baixo) velhinho muito simpático com umas sobrancelhas farfalhudas e expressivas que acompanhavam cada sorriso, disse ao Fred que gostava que fosse ele a servir-nos. Ele riu-se e acenou como quem diz ‘pode ser que sim, mas eu quero é comer’.

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Uma hora e meia depois, chegava a nossa vez. Fiz o meu maior sorriso quando vi que os nossos lugares eram mesmo ao pé do tal sushiman. Sentámo-nos e fomos recebidos com muitas vénias, muitos sorrisos e muitas palavras em japonês. Sorrimos de volta e para os lados, onde dois casais jovens tinham algo em comum connosco: não percebiam nada.

O senhor começou imediatamente a servir-nos. Primeiro o gengibre, depois um nigiri de atum. Os nossos olhos brilhavam.

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A cor e o brilho do atum, a proporção com o arroz… GOSH. O peixe desfez-se na boa. Estava a começar bem.

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Trouxeram-nos uma sopa de miso, com amêijoas, igualmente deliciosa e um chá verde.

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Memorizem esta cara. Vão por mim. Nunca se esqueçam dela. Especialmente se algum dia forem ao Daiwa. A refeição continuou. Mais um nigiri, agora com gamba e uma novidade: uni, que é como quem diz, ouriço do mar. Nunca tinha experimentado e, sinceramente, sempre temi um pouco este momento, por ter uma cena com texturas. Há texturas que não consigo suportar. Despertam logo o meu gag reflex (não há uma maneira bonita de dizer isto). Mas obviamente, sem provar não ia saber.

Foi super tranquilo. Não era tão estranho quanto estava à espera. É fresco, leve e o sabor até é bom.

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Avançamos com um peça de tamagoyaki, que é tipo uma omelete dobrada em várias camadas. Bom, mas prefiro peixe. Siga.

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Mais um nigiri com atum e o outro era com um peixe braseado. O pequenito era uma gamba grelhada em que se comia a casca e tudo (achamos nós). Foi aqui que começámos a falar com o casal ao nosso lado esquerdo. Percebi que eles não sabiam o que era e disse-lhes. O que eu fui fazer… -.-

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O sushiman viu-nos a falar e apontou para nós, dois a dois e perguntou ‘Two, two, two, together?‘. Eu acenei que sim porque pensei que ele estava a perguntar se cada casal tinha vindo junto e não me passou pela cabeça que estaria a perguntar se estávamos os 6 em grupo, porque entrámos em timings completamente diferentes.

Começámos a ouvir o velhote a dizer ‘last, endo, endo‘. Eu ignorei porque pensei que estava a falar para os casais ao nosso lado, mas o Fred ficou com um ar inquieto. Os outros casais foram embora e ele até ficou chateado porque não tinham acabado os maki que ele lhes tinha feito. Ainda agora tínhamos começado a comer e ele já tinha parado de nos servir — algo não estava bem.

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Até que tento explicar-lhe em inglês que nós ainda não tínhamos acabado a nossa refeição e ele só diz ‘Sorry, sorry’ (sori, sori) e aponta-nos para a caixa. O Fred diz-me para desistir, que nunca íamos conseguir explicar-lhe e que não havia ninguém ali que falasse inglês. Encolhi os ombros, kinda sad e levantei-me.

Pagámos quase €75 pelos dois. O mesmo que teríamos pago se tívessemos comido tudo a que tínhamos direito. O Fred estava nitidamente frustrado, eu ainda incrédula. Passados 10 minuto só me ria com a situação. Foi efectivamente a única vez em que a língua nos limitou.

Por isso já sabem. Fujam desta cara. A idade não perdoa! Ahahaha! Ficou uma história para contar. :)

To be continued…