No Largo Rafael Bordallo Pinheiro, salta-nos logo à vista uma esplanada com candeeiros de papel de arroz. Quando nos aproximamos, esquecemos a esplanada e vamos diretos às andorinhas. Como é que no Largo Rafael Bordallo Pinheiro não há nenhuma referência à obra do artista? Perguntou um dos donos, quando decidiu abrir o restaurante. Até senti vergonha. Especialmente porque estamos a falar de um americano que veio até ao nosso país valorizar o nosso património. Shame on us.
Na fachada, as andorinhas conduzem-nos à verdadeira viagem. Ainda antes de entrar, tive tempo para apanhar um pormenor que me deixou awwww: duas taças com água no chão. Cão, gato, passarinhos ou abelhas — todos são convidados a matar a sede se assim o desejarem. Achei maravilhoso e pensei que esta gente só podia ter um coração enorme.
Quando entramos no Boa-Bao, somos imediatamente absorvidos por ambiente. Quente, exótico e algo intrigante. Destaco logo três zonas de refeição: ao balcão, debaixo da arcada temos a sala principal com mesas corridas e ao fundo, um pequeno e acolhedor terraço com pormenores maravilhosos, que ainda beneficiava da luz do dia.
Depois de explorar o espaço, volto outra vez à zona do bar. Olho para cima e deixo-me fascinar pelas plantas penduradas no tecto e pelos macacos do Sr. Bordallo Pinheiro que nunca me pareceram tão bem. Olho em frente e vejo os copos mais cool. Ofereceram-me logo um cocktail. Perguntei quais eram as sugestões e acabei por escolher um Sling Dao.
Já na mesa, o nosso tasting menu começava a chegar. Eu que vim do Japão há quase dois meses, estava desejosa para à Ásia. Nem que fosse à mesa. Para entrada tínhamos:
– Goi Cuon Rolo Vietnamita com salada, ervas aromáticas e camarões.
– Chamuça Vegetariana com chutney de coentros e hortelã
– Tosta de pão frito com Camarão, Porco e sésamo
– Sortido de Dim Sum vegetariano.
Nunca digo que não a summer rolls, especialmente num dia de calor! As chamuças eram bastante boas, com o picante no ponto. O pão frito com camarão e porco foi possivelmente a que mais se destacou em termos de sabor. Por fim, no dim sum havia peças variadas. Não sabia exatamente o que estava a comer, mas sei que gostei mais de umas do que de outras.
Ainda só tínhamos começado e eu já estava preocupada com toda a comida que ainda faltava experimentar. Pude provar duas sopas: a cantonesa de wontons com noodles de ovo e porco e a de caril da Malásia com marisco e noodles de ovo. Gostei muito das duas, apesar de reconhecer que a de caril se torna mais cansativa para quem não for o maior fã.
Com o primeiro prato, chegaram três tipos de caril amarelo da Malásia: frango, camarão e tofu. Provei o de tofu e o de frango e gostei muito dos dois. Para acompanhar o caril, havia sticky rice e arroz de jasmim, que até costumo fazer cá em casa. Como nunca tinha provado o primeiro, foi uma escolha óbvia. Juntamente com o caril, fica ótimo, mas é efetivamente sticky! É toda uma experiência tirá-lo da cestinha. :D
Quando ouço a palavra wok, o meu palato bate palmas. Por isso, já tinha altas expectativas em relação aos dois últimos pratos. O Pad Thai vegetariano foi uma boa supresa! O amendoim é definitivamente a estrela do prato. É um prato doce, mas muito delicioso. O outro prato era dourada grelhada com legumes asiáticos. A dourada estava muito bem cozinhada e os legumes salteados não falharam.
A minha barriga já me tinha pedido para parar de comer há muito tempo, mas eu tinha de arranjar espaço para as sobremesas. mousse de chocolate e gengibre, crème brûlée de coco com manjericão e erva príncipe e carpaccio de ananás com loempia de chocolate e baunilha. Esta última, sem dúvida a minha favorita! Fruta, chocolate e gelado, três das minhas coisas favoritas. A mousse também não era nada má! Quanto ao crème brûlée — not for me. Mas não houve consenso à mesa – ou gostaram muito ou não gostaram de todo. Fãs de coco? Vão adorar.
Foi uma experiência fantástica poder experimentar tantos sabores e texturas. Uma viagem de Portugal à Ásia sem sair da mesa e com a melhor das companhias. Um jantar de descoberta num ambiente intimista. Repetirei, de certeza.