Relatórios que demoram meses a chegar a conclusões, culpas que ficam por apurar, prejuízos materiais e imateriais, destruição de ecossistemas, mortes animais e humanas. Este cenário é assustador, aterrador, surreal. O nosso país pequenino à beira-mar, que nos habituámos a chamar um pedaço de céu, arde e ceifa vidas.
Depois da tragédia de Pedrogão Grande, todos sentimos uma falsa segurança de que uma situação com esta não voltaria a acontecer. Domingo, dia 15 de outubro de 2018, 36 vítimas mortais (so far), muitos hectares de floresta em cinzas, património histórico destruído, prejuízos materiais e corações que terão de reviver o sobressalto e a dor da perda para sempre.
Em minha casa cheirou a fumo e a minha garganta ressentiu-se. O fogo estava longe, e ainda assim tão perto. Acompanhei as notícias e pensei não só nos amigos que têm família nas localidades que o fogo não poupou, como nos estranhos desesperados, que me parecem agora tão familiares. O flagelo é nosso. Não é possível passar indiferente.
Dou por mim a ponderar ser bombeira voluntária para nestas ocasiões não sentir o nó da impotência e da inutilidade a asfixiar-me. Poder pegar no carro e por-me a caminho.
Se eu mandasse, havia uma data de medidas que tentaria aplicar. Por exemplo, se desde a escola primária fossemos sensibilizados para cuidar da floresta/mata e no secundário houvesse uma formação obrigatória para saber como atuar nestes casos e auxiliar os bombeiros, seria um bom começo.
Depois da desgraça, resta-nos tentar corrigir os problemas estruturais da floresta portuguesa, acabando com a monocultura. É preciso aplicar penas a quem não limpa os seus terrenos ou faz queimadas fora do período permitido. Já não devem restar dúvidas de que nunca devíamos ter acabado com os guardas florestais.
É imperativo rever os benefícios económicos que resultam deste tipo de tragédia e como os minimizar, para desencorajar os incendiários por interesse. Mas também, incentivar a denúncia — seja do vizinho que não cumpre a lei, seja algum suspeito. Isto faz-me lembrar um pormenor da minha viagem ao Japão. Em todo o lado havia avisos a pedir para contactar as autoridades caso se visse algo suspeito. Precisamos também de penas bem mais pesadas para os doentes mentais que gostam de brincar com a vida dos outros, qualquer que seja o objetivo.
O orçamento de estado deveria ser novamente revisto, porque precisamos nitidamente de um reforço financeiro a este nível, por exemplo, melhores equipamentos e ordenados para os nossos bombeiros. Como é que ainda não tiramos partido da tecnologia — porque é que não fazemos vigilância florestal com drones? Mais, há algo que possamos fazer em relação a materiais de construção com propriedades corta-fogos?
A negligência com base na ignorância é uma das principais causas e por isso, precisamos de educar as populações. Desde o senhor mais velho que sempre viveu no campo e acha que tem sempre as suas queimadas sob controlo, aos churrascos e mesmo aos fumadores que têm por hábito atirar as piriscas dos cigarros pela janela.
Precisamos também de um/uma bom/boa Ministro da Administração Interna e uma equipa mais competente na Proteção Civil para uma melhor coordenação de meios.
Em respeito para com as vidas perdidas, o mínimo que podemos fazer é evitar que isto volte a acontecer. Vamos reflorestar Portugal de forma consciente. Agora, vamos mostrar o que o nosso país tem de melhor e ajudar que perdeu tudo.
Falar é fácil, não é? Quem me dera que fosse tão fácil. :(